quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Goldfinger (Guy Hamilton, 1964)

Para muitos, Goldfinger é o ponto alto da passagem do agente secreto James Bond para o cinema. A interpretação a cargo de Sean Connery, a banda sonora com a voz de Shirley Bassey e a imagem da loira platinada morta por sufocação depois de ter sido coberta em tinta dourada e abandonada numa suite do fabuloso Hotel Fontainbleau em Miami são chamarizes eficazes. Não lhe falta estilo nem ousadia. É inaugurada a tradição da sequência pré-créditos sem relação com o resto do enredo, aqui completa com o ator escocês a envergar um blazer branco com uma rosa vermelha na lapela e a segurar num cigarro no preciso momento em que uma bomba por ele plantada explode nas redondezas, porque “cool guys don’t look at explosions”. É usada a alcunha mais badalhoca de toda a série, Pussy Galore, uma aviadora que lidera um grupo de aprendizas femininas que só vestem licra justinha quando estão nos comandos. Várias imagens de marca que hoje damos como garantidas tiveram a sua origem aqui.

Até agora nada de negativo, apreciando-se esta mistura de mistério internacional, humor sarcástico e estilo extravagante, como é o meu caso. O agente do MI6 que seduz todas as mulheres que lhe aparecem pelo caminho e que resolve todas as ameaças do submundo do crime com o máximo de discrição é entretenimento de referência. No entanto, sempre torci o nariz a este Goldfinger, essencialmente pelo seguinte: James Bond é inútil nesta história! Basta realçar que passa dois terços do tempo preso. A partir do momento em que Oddjob, o capataz mudo com um chapéu assassino, vassalo do milionário louco do título, apanha o nosso herói a espiar uma fábrica de fundição de ouro, o papel deste resume-se a ter um laser perigosamente perto do abono de família, levar porrada, ser preso, levar porrada e não conseguir desativar uma bomba. Pelo meio, fica por determinar se convence Pussy Galore a mudar de lado quando a viola (!) e a dar o alarme ou se esta era uma agente infiltrada na quadrilha de Goldfinger desde o início.

Estar à mercê do mau da fita a certa altura faz parte da receita de qualquer filme do 007, mas não é preciso levar isso a este exagero. Já para não falar da risível tentativa de vingança do primeiro, que consegue entrar armado num jato privado da CIA que é suposto levar Bond e a senhora Pussy ao encontro do presidente dos EUA. Isto depois de o seu plano de arrombar o Fort Knox, com recurso ao espalhamento de gás tóxico sobre a base militar que o guarda, para matar milhares de soldados, avançando sem resistência para a contaminação da reserva de ouro da maior potência mundial com radiação nuclear, tornando-a inútil e aumentando exponencialmente o valor das barras que passou a vida a contrabandear e a guardar, sair gorado. Apesar da sua relevância no estabelecimento de ideias-chave deste universo cinemático, Goldfinger acaba por ser o mais medíocre da era Connery.

5/10

1 comentário:

  1. Concordo. A reputação do filme é manifestamente exagerada.
    O melhor é o tema titulo. Os tugas Belle Chase Hotel fizeram uma versão engraçada há uns anos atrás.

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    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.pt/

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