domingo, 7 de fevereiro de 2016

Room (Lenny Abrahamson, 2015)

Esta semana, em mais um episódio de “Quando a Realidade Ultrapassa Qualquer Ficção”, temos o caso Fritzl. Corria o ano de 2008 quando a pacata cidade de Amstetten, na Áustria, é colocada no mapa noticioso mundial dias depois de um cidadão sénior chamar uma ambulância para que fosse prestada assistência médica a uma jovem em insuficiência renal que ele teria encontrado com uma carta. Esse banal acontecimento acionaria uma reação em cadeia que levou à descoberta de uma diminuta cave na residência de Josef Fritzl onde o próprio teria aprisionado uma das suas filhas durante 24 anos e com ela tido sete crianças.

A barbaridade dos contornos criminais desvendados e a lógica retorcida das declarações daquele monstro do qual ninguém suspeitava, nem a esposa de um casamento com 52 anos que vivia na mesma casa, eram inimagináveis, mais do que em ocorrências semelhantes anteriores, pela aberrante árvore genealógica. Daí que um livro como Room apenas tenha sido possível após um exemplo desta magnitude e exposição mediática. Nele, bem como nesta adaptação cinematográfica, o foco recai em Jack (Jacob Tremblay), a criança de 5 anos que resulta dos abusos que Old Nick comete sobre Joy (Brie Larson) enquanto a mantém em cativeiro.

Jack nasceu dentro da cabana onde está aprisionado, não conhecendo nada do mundo exterior, exceto o que vê pela televisão, que não acredita ser real, qual alegoria da caverna. Apenas existe o quarto. Entre as lições de leitura, os exercícios de ginástica e a confeção de refeições, é incrível verificar como estas pessoas se adaptaram à sua condição. Lenny Abrahamson desafia-nos a aguentar uma hora de claustrofobia e depressão difícil de processar. Como pode um homem conter tanta maldade ao ponto de fechar uma mulher durante 7 anos para a torturar? Como pode uma mulher sobreviver a isto com sanidade?

Subitamente, há uma fuga, a verdade é descoberta e o filme dedica o mesmo tempo às tentativas de Joy em refazer a sua vida e em mostrar a Jack tudo o que ele nunca experimentou. Por a história ser relatada pelo rapaz, entranha-se uma certa inocência que torna Room delicadíssimo. A tentação de seguir um raptor é antiga, veja-se The Collector (William Wyler, 1965); aqui grudamos às vítimas. Os dois atores principais carregam o enorme peso de uma proximidade forçada, geradora de uma ligação inquebrável mas asfixiante. É uma química do outro mundo, à margem do mundo. Acima de tudo, Room fala sobre o amor de uma mãe pelo filho.

8/10

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