quarta-feira, 29 de julho de 2015

Ante-estreia de Mission Impossible: Rogue Nation

Dois dias antes da ante-estreia nos EUA do novo filme com Tom Cruise como o incontornável Ethan Hunt, aconteceu a ante-estreia em Leça da Palmeira e claro que, tendo recebido convite, tive de aproveitar.

Para além de a espectacular sala IMAX do MarShopping ser um deleite para qualquer cinéfilo, este novo tomo do Mission Impossible é talvez o mais bem escrito desde o primeiro e o mais bem filmado de todos (Robert Elswit na fotografia, há que lembrar).


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Europa Europa (Agnieszka Holland, 1990)

A Segunda Guerra Mundial sempre foi e sempre será terreno fértil para o cinema; ao longo dos anos, já saíram filmes sobre todas as maiores batalhas, sobre todos os mais influentes protagonistas, de todas as perspectivas, com mais ou menos realismo, com mais foco sobre os líderes, sobre os soldados ou sobre os inocentes. Ainda assim, as surpresas surgem quando menos se espera e, mesmo não tendo propriamente passado despercebido na altura de estreia, como atesta a nomeação para o Óscar de Melhor Argumento Adaptado, este Europa Europa é uma agradável descoberta.

Em questão, uma história de sobrevivência inverosímil mas verídica. Solomon Perel, judeu alemão, muda-se para a Polónia com a família quando o antissemitismo nazi começa a envenenar o dia-a-dia, ainda antes do conflito romper. Quando Hitler manda as suas tropas avançar rapidamente para leste, o rapaz e um dos irmãos mais velhos separam-se dos pais, por vontade destes, em direção à Rússia, para lá procurarem refúgio antecipadamente. O problema é que também eles perdem, no meio de tantos migrantes, e Solomon acaba sozinho num orfanato soviético.

Dois anos passam, tempo suficiente para absorver a cultura e a língua, adorar Estaline e esquecer Deus. Numa cena com iguais porções de comédia e incredulidade, outro rapaz declara-se, em plena sessão de leitura sobre a glória do comunismo, crente. Uma partidária febril desafia-o então a rezar por uma chuva de rebuçados na cantina. Relutante, ele cede e nada acontece. A miúda diz-lhe para fazer o mesmo, desta vez chamando pelo seu líder. De repente, de uma grelha no tecto, alguém escondido num sótão deixa cair dezenas de doces, para gáudio de todos os alunos. O culto de personalidade no expoente máximo.

Contudo, a guerra ainda tem muito para dar. Os alemães avançam, Solomon é preso e tem de se habituar a mentir para continuar vivo. Bilingue, é aceite num pelotão da Wehrmacht por ser um óptimo tradutor. Este nível de inteligência só é possível pertencendo à raça ariana, certamente, e a sua identidade raramente é questionada, tal a sua importância. O jovem sempre desejara ser actor, mas nunca imaginara que ser outra pessoa custasse tanto… e o pior nem é esconder a circuncisão na linha da frente dos companheiros de batalha. O maior problema é quando um coronel o adopta e envia para um internato no Reich.

Europa Europa é constituído por episódios de uma ironia extrema – Solomon tem a sorte e a habilidade de escapar da morte muitas vezes e de formas incríveis. Só que e a sua família? E os outros judeus que habitavam na Alemanha e na Polónia, por exemplo? Julie Delpy aparece, com 20 anos, a fazer de adolescente iludida e com uma dobragem horrível, e Marco Hofschneider tem o papel de uma carreira. A acompanhar este grande argumento, o melhor tema de Zbigniew Preisner, compositor frequente de Krzysztof Kieslowski. Praticamente só boas razões para recordar este filme.

8/10

domingo, 5 de julho de 2015

Coherence (James Ward Byrkit, 2013)

Normalmente associa-se a ficção científica a viagens intergalácticas, fatos de treino futuristas, inovações tecnológicas e, de uma forma geral, efeitos especiais tão pesados que fariam um computador normal engasgar-se todo durante a fase de produção. Contudo, não precisa de ser sempre assim, afinal as maiores descobertas raras vezes extravasam das paredes limítrofes de laboratórios, salas de reuniões, escritórios, bibliotecas, universidades ou centros de pesquisa. Um filme como Coherence, que se desenrola quase na totalidade dentro da mesma casa, talvez esteja mais próximo da essência do género do que se possa assumir à partida.

Quatro casais, oito amigos, reunidos num jantar caseiro e informal, ao mesmo tempo que um cometa passa ao largo da Terra, deixando um rasto luminoso bem visível. Nenhum deles tem conhecimento suficiente para explicar o fenómeno com precisão, muito menos os eventos bizarros que se irão suceder e que podem (ou não) ter alguma ligação com isso. O início parece dum filme indie qualquer sobre amizade e com banda sonora da Vodafone FM, onde as relações entre as personagens são estabelecidas e há potencial para conflitos, trocas e baldrocas, mas quando o grupo vai à rua observar o céu e as luzes de todo o bairro vão abaixo, é certo que o rumo vai mudar bruscamente.

Hugh é advogado, mas tem um irmão cientista com quem prometera manter o contacto nesta noite. Encontra um livro no carro que lhe ia levar sobre física quântica, onde os oito se deparam com algumas teorias sobre a existência de variações duma mesma realidade. Poderão estas, em determinadas circunstâncias, tocar-se? A urgência em obter respostas leva Hugh a dirigir-se à única casa do quarteirão com electricidade. Esta decisão vai acarretar uma série de consequências imprevistas, nomeadamente encontrarem uma caixa com fotografias de todos e um objeto aleatório, receberem cópias de notas escritas por eles e aperceberem-se da existência duma zona negra à volta da casa.

Emily destaca-se pela parcimónia, tentando resolver os problemas que se vão apresentando com cabeça fria, apesar de o namorado Kevin estar prestes a partir para o estrangeiro e ela não saber se pode ou não ir juntamente, e da presença de Laurie, a ex que agora está com outro elemento do grupo, Amir. Emily deverá ser a última a tomar alguma atitude condenável. Se isso acontecer, é melhor nem imaginar o futuro dos outros. Coherence destaca-se pela certeza com que desenvolve uma história tão simples baseada em conceitos da física tão complexos. Com poucos meios e muito improviso, especialmente da parte dos atores, está aqui um filme tenso, inteligente e cativante. Ficção científica reduzida ao essencial.

8/10