quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

The Imitation Game (Morten Tyldum, 2014)

“Behind every code is an enigma” diz o poster original deste The Imitation Game, resumindo brilhantemente, numa frase, as duplicidades do filme e espicaçando a curiosidade. A nível de enigmas temos a máquina de criptografia com esse nome usada pelos nazis durante a 2ª Guerra Mundial para transmitir mensagens por rádio sem que os aliados conseguissem decifrar e a personalidade idiossincrática do matemático Alan Turing, que seria o primeiro a deslindar o seu funcionamento. Os códigos são a parte mais visível desse trabalho, mas também os eufemismos, os disfemismos, as regras de etiqueta e outras figuras de estilo e padrões de comportamento que usamos todos os dias para obter o que queremos, mascarar o que dizemos ou guardar segredos, consoante a necessidade. Quanto ao “behind”, pode ser uma referência tanto ao esforço de guerra feito longe das linhas da frente como à homossexualidade da personagem principal. Ok, agora levei estes “double entendres” demasiado longe.

Vou deixar as piadas de lado, porque este drama histórico é bastante deprimente. Os horrores dos combates, dos campos de concentração e da devastação causada nas cidades de meia Europa, habitualmente o foco das revisitações deste período, são quase um rumor, no entanto a tensão vivida no departamento de criptografia dos serviços de inteligência britânicos, mascarado em Bletchley como uma fábrica durante muito tempo, e os fragmentos de eventos anteriores e posteriores, relativos às tristes experiências pessoais do incompreendido Turing, que apenas contribuíram para o tornar cada vez mais arrogante, anti-social e tergiversante, são suficientes para criar uma atmosfera tão cinzenta quanto a meteorologia local. Desde o início, quando ele é entrevistado pelo comandante Denniston para integrar a equipa encarregue de estudar a Enigma, fica claro que quem o rodeia tipicamente prefere julgá-lo, insultá-lo e até bater-lhe a fazer um esforço para o ajudar. Turing é sistematicamente subestimado por ser diferente.

As suas ideias encurtariam a guerra em cerca de dois anos, estima-se, porém tiveram de se manter em segredo de estado por várias décadas, outro factor que adiou uma análise justa do alcance da sua genialidade. Apenas podemos imaginar que mais inovações teria desenvolvido caso não se tivesse suicidado em 1954. Com a reputação manchada e a saúde comprometida depois de ter sido condenado por indecência, já que a homossexualidade era ilegal, forçado a submeter-se a um processo de castração química, o professor terá desistido de aturar os seus demónios. A estrutura do argumento é impecável na forma como concilia esse período final e a infância, marcada por bullying e uma decepção amorosa trágica, com o dia-a-dia atribulado em Bletchley, dando outra profundidade aos tiques, às hesitações e à fisionomia única que Benedict Cumberbatch empresta ao papel. Comparando com outra biografia de um cientista inglês deste ano, The Theory Of Everything, não tenho dúvidas de qual é o melhor filme e de qual contém a melhor interpretação.

8/10

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