quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

The Grand Budapest Hotel (Wes Anderson, 2014)

Já me colaram o rótulo de obsessivo-compulsivo algumas vezes e eu aceito, consciente de que, felizmente, se traduz em manifestações de pouca expressão, que me levam a insistir na arrumação dos espaços que ocupo e na geometria da disposição dos objectos, mas não da forma doentia que caracteriza os reais portadores deste distúrbio; o meu dia-a-dia não sofre por eu ser organizado, antes o contrário. Pela atenção que dá aos detalhes, pela constante procura dos melhores movimentos de câmara e dos planos mais bem enquadrados e até pelo humor desajeitado, sempre imaginei que o realizador Wes Anderson se insere também nesta definição. Só isso, à partida, já me aproxima dos seus filmes.

Depois de tantos anos a refinar o seu estilo, conseguiu atingir em Moonrise Kingdom uma harmonia no cerne emocional que o serve como uma luva e que, devido à habitual peculiaridade das personagens, se revelava difícil de manter constante em filmes anteriores. Essa história de amor juvenil em tempos de maior inocência é, para mim, do melhor que foi feito até agora neste milénio, e só de me lembrar de Sam e Suzy a dançar numa praia ao som de Le Temps De L’Amour, do primeiro álbum da Françoise Hardy, já fico com palpitações, de tão maravilhosa que é essa cena.

Com um enredo bastante mais intricado e vislumbres de contexto histórico, disfarçados por quantidades enormes de lugares, apelidos, brasões e uniformes fictícios na Europa dos anos 30, The Grand Budapest Hotel mantém a fasquia elevada. Tanto a relação de pai e filho entre o gerente do estabelecimento do título, o bonacheirão M. Gustave (com Ralph Fiennes a espalhar charme e a confirmar o seu alcance infindável) e o novo paquete, o obediente Zero (Tony Revolori, outro jovem a revelar talento graças a Wes Anderson), como o namorico entre o rapaz e Agatha (Saoirse Ronan), ajudante na pastelaria da moda, carregam carradas de compaixão e graça, a que não consigo resistir.

Quando uma das amantes idosas de M. Gustave morre e lhe deixa um quadro de valor incalculável, a ganância vai persegui-lo e levá-lo a ser esmurrado, preso, fugitivo e quase abatido dentro do seu próprio hotel, entre outras situações, algumas demasiado absurdas e divertidas para serem arruinadas por qualquer descrição. As aparições de Bill Murray, Jason Schwartzman, Edward Norton, Willem Dafoe ou Tilda Swinton são já uma regra bem-vinda. A repetição obsessiva de certas cores, as composições simétricas e as maquetes usadas como cenários são a cereja no topo do bolo. Um bolo cuja receita está no ponto neste momento.

9/10

2 comentários:

  1. Apesar das boas críticas, os primeiros trabalhos de Wes Anderson não me convenceram, até estes dois belíssimos filmes.

    Moonrise Kingdom e Grande Hotel Budapeste são fantásticos na parte técnica, tem histórias e personagens interessantes, além de serem extremamente originais.

    Abraço

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    1. Concordo que estes dois últimos filmes são os melhores dele :) The Royal Tenenbaums e Fantastic Mr. Fox também são fabulosos, mas acredito que o Wes Anderson está no topo da sua forma de momento.

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