terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A Casa (Sharunas Bartas, 1997)


O ficheiro .srt que acompanhava a versão que comprei algures na internet com 100% de desconto informava-me que A Casa continha apenas 42 linhas de diálogo, todas proferidas no início ou no fim, um prefácio e um epílogo breves, a emoldurar o que só poderia ser um filme que se move à velocidade de um caracol, vindo do sempre indolente Sharunas Bartas. Depois de Three Days ou Few Of Us, mais indicados em cenários cirúrgicos como substitutos na administração de anestésicos, só podia estar prestes a vivenciar uma relação causa/efeito com a minha próxima sesta.

Não podia estar mais enganado; A Casa é um festim de efeitos especiais, que faria corar Michael Bay. Depois de uns espectaculares planos de pombas a esvoaçar por uma sala poeirenta, que devem ter exigido green screen a torto e a direito, mais seis meses de pós-produção em frente ao computador, o protagonista aparece pela primeira vez a acordar de um sono profundo e a ser imediatamente testado em cenas de uma exigência física ímpar, como a andar, a caminhar, a deambular e até a vaguear pela casa do título!

Eu sei que isto parece uma introdução já de si bastante intensa, mas têm de acreditar quando digo que isto não é nada comparado com o que se segue. Outras pessoas vivem ali e não falam umas com as outras, aumentando assim a incerteza do enredo. As nuances são intricadas e quase se diria que alguém esconde um terrível segredo. Estarão afectados por um vírus que causa mudez? Terá toda a gente perdido a sua roupa em batalhas com zombies esfomeados? Estará o rapaz a imaginar tudo? A incerteza é de cortar à faca.

São duas horas que passam num instante. Há muito tempo que não via algo que se comparasse no género de “filmes que mostrem crianças nuas a brincar no meio de veludo” ou de “filmes em que um senhor de ascendência africana joga xadrez sozinho e perde”. A montagem merece elogios, e chegamos a ver dois cortes por cada hora, algo impensável, mesmo com a tecnologia actual. Bartas reinventa-se completamente e assina aqui uma obra-prima de causar palpitações ao espectador mais corajoso. Ou não.

2/10

2 comentários:

  1. Não conhecia esta pérola.

    Pelo jeito é um bom filme para fazer dormir quem sofre de insônia.

    Abraço

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    1. Completamente! Um vazio total, ao menos o Three Days conseguia tocar um pouco, acho que é o único filme deste realizador que vale realmente a pena.

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