terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Mrs. Miniver (William Wyler, 1942)

Quando Winston Churchill declara que um certo filme fez mais pelo esforço da Inglaterra na Segunda Guerra Mundial do que uma esquadrilha de navios, não há muito a acrescentar. Estou a falar de Mrs. Miniver, um melodrama sobre uma família burguesa que vive pacificamente nos arredores de Londres e é indelevelmente afectada pelo conflito. Como diz o padre da paróquia local, entretanto destruída por ataques aéreos, mas cheia como sempre, o povo foi chamado a participar, por força das circunstâncias, pela dimensão da destruição e pela ameaça do totalitarismo nazi, e não está no seu carácter fraquejar nestes momentos.

Apesar de a produção ser americana (os mais atentos repararão nos bamboleantes sotaques), aquilo a que se convencionou apelidar de qualidade britânica faz algum sentido aqui: a contenção sólida a todos os níveis e a atenção ao detalhe, sem grandes inovações e simplesmente funcional, dão ao filme o charme que um melodrama sofisticado requer. Começa suavemente, com episódios da vida privilegiada que Vic, o filho mais velho dos Minivers e aluno de Oxford, critica por serem prova da perpetuação do regime feudal, sempre com as mesmas famílias no topo e na base da pirâmide.

Ironicamente, quem lhe chama a atenção para a sua inacção para ajudar os menos desafogados e afortunados é Carol Beldon, a herdeira da referência aristocrática do burgo. Vic apaixona-se por ela, e ainda bem, pois é uma vantagem ter ao nosso lado alguém que nunca se coíbe de dizer a verdade. Aos poucos, a sombra da guerra substitui as compras na baixa, os bailes informais e os concursos de flores e, talvez por querer fazer algo pelo bem comum mas também proteger o que conquistou a nível pessoal, Vic alista-se na Royal Air Force. Ao mesmo tempo, o pai é um dos muitos civis convocados a participar na batalha de Dunkirk.

A importância histórica do filme advém da assumida intenção de Wyler em envolver os EUA na guerra, por acreditar que a luta do Reino Unido era valorosa mas a força nazi tinha de ser combatida com mais aliados. As motivações alemãs e a perigosidade dos seus ideais são vincadas pela raiva, talvez exagerada, talvez não, dum piloto perdido e a monte que entra na casa dos Minivers; é um momento tensíssimo a vários níveis. Efectivamente, a simpatia dos americanos por esta causa aumentou e o próprio realizador voluntariou-se para o exército a seguir, estando ao serviço quando ganhou o Óscar da categoria (o primeiro de três).

É interessante verificar a evolução do cinema em menos de uma década. Cavalcade tinha sido eleito o melhor do ano pela Academia em 1934 - ainda muito influenciado pelo teatro e com uma fotografia deficitária, essa saga familiar britânica está a milhas desta posterior, a nível técnico (o selo de qualidade William Wyler não falha) e de representação (Greer Garson e Teresa Wright em especial têm cenas conjuntas exigentes, que lidam com uma classe à parte). Os créditos finais aparecem, mas o maior conflito armado de sempre estava ainda longe de terminar…

8/10

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