sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Grand Hotel (Edmund Goulding, 1932)

Os hotéis são sítios fascinantes: tenham mais ou menos requinte, estejam melhor ou pior localizados, sejam modernos ou antiquados, o simples facto de tanta gente viver temporariamente e deixar um bocado de si em cada quarto, que são imediatamente arrumados de forma a obedecerem a padrões estandardizados de limpeza e aspecto para se parecem como novos outra vez, torna-os como que um depósito de memórias que não deixam vestígios. O músico Moby passou tanto tempo neles que acabou por lhes dedicar um álbum. Umas quantas décadas antes, já alguém fazia uma soliloquia semelhante em Grand Hotel.

A cidade é Berlim. O período é o intervalo entre as duas Guerras Mundiais. Em modo proto-filme-mosaico, várias personagens, quase todas apresentadas numa montagem de telefonemas a ocorrerem em simultâneo nas cabines da recepção, intersectam-se no espaço do título, do qual nunca saímos. Preysing (Wallace Beery) está prestes a vender a sua empresa para mascarar a falência, Kringelein (Lionel Barrymore) é um doente terminal que se entregou à vida loca, Grusinskaya (Greta Garbo) é uma bailarina idiossincrática, von Geigern (John Barrymore) é um larápio com estilo e Flaemmchen (Joan Crawford) é uma estenógrafa boémia.

O que os une, mais do que os encontros e desencontros que se vão sucedendo, é o dinheiro. Não se pode dizer que o filme seja anti-capitalista ou anti-materialista, até porque apresenta com entusiasmo um mundo luxuoso de acesso muito restrito, porém tanto a falta como o excesso dele têm um poder corruptível, levando Preysing a abdicar da sua moral, o barão von Geigern a pôr em risco o amor e apenas trazendo alegria a Kringelein porque este decidiu estourá-lo sem preocupações enquanto pode. No fundo, quando decide partir para outro Grand Hotel, percebemos como tudo é fútil perante a solidão e a morte.

É difícil negar que o filme está datado, como se pode notar especialmente no romance entre o barão e Grusinskaya, que fala sozinha de forma dramática, encontra um estranho escondido no quarto e pimba, apaixona-se por ele. Inovador na época pelos sets construídos (há uns planos magníficos no início que demonstram porquê) e pelo cast (as estrelas são muitas e parecem competir saudavelmente, para benefício do filme, pela interpretação mais memorável - pessoalmente, adoro a frescura de Crawford), o ritmo inconstante fere-o ligeiramente. Resta-lhe ainda muito, muito charme. Afinal, vê-se tanto num grande hotel.

6/10

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