quinta-feira, 31 de outubro de 2013

LISTAS: Jonathan Glazer

Por ocasião da estreia iminente do novo filme de Jonathan Glazer, uma mescla de géneros com Scarlett Johansson como protagonista chamado Under The Skin, publico esta lista de 2002 dos seus predilectos, onde podemos ver uma tendência para os clássicos. Não é uma lista com grandes surpresas, mas a qualidade é inegável e o eclectismo também, como tem sido a sua (curta) carreira até agora.

  • Andrey Rublev (Andrei Tarkovsky, 1966)
  • 2001: A Space Odyssey (Stanley Kubrick, 1968)
  • Throne Of Blood (Akira Kurosawa, 1957)
  • The Godfather, Part II (Francis Ford Coppola, 1974)
  • Citizen Kane (Orson Welles, 1941)
  • Cries And Whispers (Ingmar Bergman, 1972)
  • 8 1/2 (Federico Fellini, 1963)
  • The Gospel According To St. Matthew (Pier Paolo Pasolini, 1964)
  • Raging Bull (Martin Scorsese, 1980)
  • The Great Dictator (Charlie Chaplin, 1940)

domingo, 27 de outubro de 2013

Rust And Bone (Jacques Audiard, 2012)

Em quase todos os filmes de Audiard um homem e uma mulher de meios diferentes, com profissões muito exigentes fisicamente ou atravessando desafios que desgastam os seus corpos de alguma forma, são unidos pelo destino, cruzam-se casualmente e acabam por encontrar um no outro companhia para seguirem em frente. São filmes que se dispersam em episódios quotidianos das várias facetas da vida de cada até ficar estabelecido um nível de intimidade confortável, o que não é fácil quando, por exemplo, uma personagem acaba de perder ambas as pernas. Ela tem de aprender a viver com isso e o espectador não é conduzido para o choque, mas para a aceitação e o regresso à normalidade.

Dito isto, enquanto via The Beat That My Heart Skipped ou Rust And Bone às vezes tinha de me perguntar onde é que estavam a tentar chegar. Neste segundo, temos Stephanie e Alain, uma treinadora de orcas e um pugilista, que se conhecem quando ela gera uma briga no clube onde ele trabalha como segurança, um primeiro encontro que parece ser algo forçado e ter pouco impacto para ambos. É assim estranho que mais tarde, depois dum acidente de trabalho com um dos animais, Stephanie se sinta compelida a ligar-lhe e que Alain aquiesça a reconfortar uma mulher na qual parece ter pouco interesse, quando no resto do tempo apenas se preocupa em usá-las para satisfazer as suas necessidades sexuais.

Passando isso à frente, a relação de amizade com benefícios que se desenvolve entre os dois até se torna bastante cativante e emocionalmente proveitosa, da perspectiva dela pelo menos, que parece ir retirando forças para lidar com as amputações da promiscuidade e das surras que ele leva em combates ilegais mas bem pagos. As metamorfoses que vai sofrendo são prova disso mesmo, com as próteses mecânicas passa a andar em pé e com outra independência e as mensagens que tatua nas pernas simbolizam um crescendo de resistência mental. Marion Cotillard dá vida a alguém que tenta transformar-se para se adaptar e isso exige discrição, beleza e dignidade q.b., tudo qualidades bem presentes.

A sua excelência contrasta com a unidimensionalidade de Mathias Schonaerts, embora também seja verdade que Alain me deixa indiferente. Viril e arrogante, prejudica a irmã à procura de dinheiro, negligencia o filho e olha com displicência para os primeiros sinais de compromisso que Stephanie lhe dá. Afasta-se do maior combate da sua vida, o de manter uma família, apesar de a possibilidade ser bastante óbvia. Um segundo acidente poderá ser finalmente o ponto de viragem, mas por essa altura já era tarde demais para eu me importar. A escrita de Audiard distancia-me mas há momentos luminosos, como o regresso ao parque aquático, que fazem Rust And Bone valer a pena.

6/10

sábado, 26 de outubro de 2013

TCN Blog Awards 2013

A quarta edição dos TCN Blog Awards está à porta e os nomeados já são conhecidos em todas as categorias. Mais uma vez, o Cinema Notebook em parceria com a Take Magazine organizam o evento do ano no que diz respeito à divulgação, destaque e encontro do melhor da blogosfera dos pequeno e grande ecrãs... e O Narrador Subjectivo aparece nas escolhas para Melhor Crítica! O meu texto sobre o filme Behind The Candelabra (Steven Soderbergh, 2013) é um dos 8 magníficos e a concorrência foi maior do que nunca, tendo havido 83 candidaturas à categoria. Aliás, essa foi a regra deste ano, tendo a adesão sido a mais expressiva de sempre, a que não será alheio o facto de haverem mais categorias.

Fico muito contente com o apoio e reconhecimento que este blogue tem tido desde a primeira hora (já lá vão mais de dois anos), que me continuam a dar motivação para encher ficheiros Word em catadupa. Adoro cinema, adoro falar sobre cinema e ter mais de 100 seguidores, receber convites para ir a festivais e ser nomeado para quatro TCN em três edições mostra-me que há quem goste de me ouvir, o que é um espectáculo, digo eu!

Parabéns também aos meus parceiros em crime do CCOP, sendo que juntos temos umas incríveis 29 nomeações, e aos criadores das iniciativas em que tive o prazer de participar e que se encontram nomeadas, são elas: À Boleia do Caminho Largo, CBA 2013 do André Marques (Blockbusters), O Meu Ciclo do A Janela Encantada e Um Filme, Uma Mulher do girl on film.

Deixo ainda um apelo ao voto, já sabem que se a abstenção for alta os terroristas ganham, por isso passem pelo Cinema Notebook e escolham os vossos favoritos na barra lateral. Agora vou abandonar, que eu tenho uma consulta às cinco horas.

Rock on \m/

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Werckmeister Harmonies (Béla Tarr, 2000)

Dificilmente as palavras podem fazer justiça a um filme como Werckmeister Harmonies; enquanto experiência sensorial, pela beleza da fotografia monocromática, pelo ritmo funerário, pela música emotiva, encontra paralelos apenas na poesia imagética de Tarkovsky, ainda que com uma inclinação para o assombramento. Há um Príncipe, uma baleia, um circo e talvez o mais belo motim da história do cinema. Tudo filmado à distância de um sonho (ou de um pesadelo). São apenas 37 planos-sequência num total de quase duas horas e meia. Tempo bem passado, especialmente numa tarde cinzenta e chuvosa.

domingo, 20 de outubro de 2013

The Good Son (Joseph Ruben, 1993)

Esta pequena pérola de 1993 tem a distinção de juntar Elijah Wood e Macaulay Culkin muito antes das aventuras por Mordor do primeiro e das desventuras com drogas do segundo. Apesar de ambos terem já, por esta altura, uma carreira algures entre o muito positivo e a fama estrondosa, a memória colectiva de The Good Son é difusa e largamente inferior quando comparada com Home Alone ou Radio Flyer, constatação facilmente justificável com o pouco apelativo (por muito comercial que o produto seja) grau de vilificação de uma das crianças.

Psicologia infantil não é um assunto estranho a Ian McEwan – o escritor inglês granjeava sucesso há 15 anos quando escreveu este argumento, e, para quem já leu The Cement Garden (1978) ou The Child In Time (1987), a inovação que se pode encontrar aqui (e que deve ser apreciada por todos) é a multitude de perspectivas sobre as acções e pensamentos de tanto Mark como Henry. Vemo-los como os adultos que os rodeiam os vêem e como eles se vêem um ao outro em simultâneo, surgindo assim conflitos entre o combate e a incredulidade perante uma óbvia fonte de instabilidade.

Lembro-me de um fedelho que chateava tudo e todos no recreio da minha primária mas ia correr a fazer queixinhas às auxiliares quando provava do seu próprio veneno e do filho dum primo em 3º grau ou algo do género que nunca levou as palmadas que devia por me desligar várias vezes a Mega Drive em pleno jogo; passando à frente essas frustrações próprias da meninice e falando honestamente, as crianças conseguem ser cínicas e o potencial sociopata da personagem de Culkin extrapola-o, para nos desafiar com a relatividade da inocência.

Um dos meus momentos cinemáticos preferidos de todos os tempos é quando o jovem de Come And See (Elem Klimov, 1985), um filme sobre a destruidora passagem nazi pela Bielorrúsia (eu prometo uma boa conclusão para esta analogia), dispara contra uma fotografia de Hitler que, depois de várias montagens anti-cronológicas, se transforma num bebé ao colo da mãe, dentro da moldura – esta é a grande implicação, o mal pode ser adquirido, mas poderá também ser genético? Pode alguém ser reles por natureza? Se pudéssemos, mataríamos um assassino antes de ele matar? Quanto antes?

Aqui podemos discutir a irresponsabilidade do final em The Good Son: apesar da forma vertiginosa como é filmado e que faria Hitchcock corar com ciúmes, somos forçados a aceitar uma escolha, quando toda a premissa se baseava na ambiguidade da transformação de uma figura frágil num monstro sem escrúpulos. Hollywood vulgar e simplista. A história não deixa de ser ocasionalmente subdesenvolvida, havendo pouca consideração pela transição entre cenas, mas merecia melhor destino, por todos os riscos que corre e por nos lembrar de que as aparências iludem – e de que maneira.

6/10

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

POSTERS: Re-Animator (Stuart Gordon, 1985)



Tão visionária quanto retorcida, a escrita de Lovecraft continua a ser uma fonte infindável de inspiração para os amantes da fantasia e do terror. O realizador Stuart Gordon começou a carreira com duas adaptações memoráveis dos seus trabalhos. Re-Animator foi a primeira e o tema central continua tão actual como sempre - as mutações corporais, o humor negro e o desfecho cruel realçam a vermelho-sangue a falta de ética na medicina, obrigando-nos a manter um espírito crítico perante as evoluções da ciência, em vez de aceitar cegamente os produtos e tratamentos que nos são impingidos diariamente.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

TRAILERS: Under The Skin (Jonathan Glazer, 2013)

Um dos trailers mais belos e bizarros dos últimos tempos, daquele que será apenas o terceiro filme de Jonathan Glazer. Apesar de ter ficado algo desapontado com a direcção do enredo de Birth, o trabalho a nível de composição é excepcional, especialmente na meia hora inicial, e Sexy Beast continua a ser um dos mais subestimados filmes de máfia de sempre. Glazer assume o ecletismo a nível de géneros e regressa agora via ficção científica.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Spring Breakers (Harmony Korine, 2012)

Com o sol a desaparecer no horizonte, visto de St. Petersburg, no coração de Tampa Bay, James Franco toca, num piano branco colocado, vá-se lá saber porquê, no pátio da sua mansão sustentada por dinheiro da venda de droga, as notas de Everytime da Britney Spears, cuja voz fininha é substituída por uma masculina, desafinada e com um ligeiro sibilar provocado pela boquilha em ouro que lhe cobre a dentição, e três vozes femininas em coro, de três loiras intermutáveis, que envergam máscaras de ski cor-de-rosa com unicórnios na testa e seguram caçadeiras ou metralhadoras, cenário este ocasionalmente entrecortado por assaltos à mão armada com os mesmos protagonistas, um deles num copo-d’água, dando um novo significado à expressão “fura-casamentos”, reproduzidos em câmara lenta, as tranças africanas de Alien a esvoaçar, as glândulas mamárias de Vanessa Hudgens, Ashley Benson e Rachel Korine a abanarem, apenas protegidas por fatos de banho garridos, sangue, praia, tiros, piscinas, cerveja, cús, Mozart, spring break forever, bitches.

8/10

terça-feira, 8 de outubro de 2013

NOTÍCIAS: Sophia 2013

A primeira cerimónia dos prémios Sophia, distribuídos pela recém-criada Academia Portuguesa de Cinema, realizou-se no domingo, dia 6, no Teatro Nacional de São Carlos. Não obstante continuar a ser da opinião de que se podia ter escolhido uma alcunha para o dito troféu que tivesse maior relação com o cinema português do que uma homenagem à poetisa Sophia de Mello Breyner, apoio qualquer evento que valorize a persistência dos realizadores nacionais que conseguem desenvolver trabalhos de reconhecido mérito num país que tão pouco os apoia. Nas 19 categorias competitivas, o maior vencedor foi Florbela, com seis vitórias, apesar de lhe ter escapado Melhor Filme.

Melhor Filme: Tabu
Melhor Realizador: Vicente Alves do Ó (Florbela)
Melhor Actor Principal: Carlos Santos (Operação Outono)
Melhor Actriz Principal: Dalila Carmo (Florbela)
Melhor Actor Secundário: Albano Jerónimo (As Linhas de Wellington)
Melhor Actriz Secundária: Anabela Teixeira (Florbela)
Melhor Argumento Original: Carlos Saboga (As Linhas de Wellington)
Melhor Argumento Adaptado: Bruno de Almeida, Frederico Delgado Rosa, John Frey (Operação Outono)
Melhor Fotografia: Luís Branquinho (Florbela)
Melhor Direcção Artística: As Linhas de Wellington
Melhor Som: Florbela
Melhor Guarda-Roupa: Florbela
Melhor Caracterização: As Linhas de Wellington
Melhor Montagem: Tabu
Melhor Música: The Legendary Tigerman, Rita Redshoes (A Estrada de Palha)
Melhor Documentário: É Na Terra, Não É Na Lua (Gonçalo Tocha)
Melhor Curta de Ficção: Cerro Negro (João Salaviza)
Melhor Curta de Animação: Kali, O Pequeno Vampiro (Regina Pessoa)
Melhor Curta Documental: Raúl Brandão Era Um Grande Escritor (João Canijo)
Prémio de Mérito e Excelência: Manoel de Oliveira

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

POSTERS: American Hustle (David O. Russell, 2013)





Olhem-me bem para estes posters. A sério, olhem bem para isto e digam lá se tanta pirosada junta e tantos bons actores não fazem querer ver esta cena já, imediatamente!