quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

sábado, 24 de dezembro de 2011

Daydream Nation (Michael Goldbach, 2010)


Daydream Nation é aquele tipo de filme que mostra aos pais o que eles não sabem sobre os filhos, pela simples razão de que já não se lembram do que é ser adolescente. Em sua defesa, é uma fase difícil de perceber e descrever - por isso é que os adolescentes passam tantas horas a escrever diários, a inventar poemas, a compor músicas, a falar uns com os outros, porque eles próprios não conseguem perceber ou descrever o que está a acontecer com eles, e então, desse sentimento de confusão, partem sem rumo à descoberta do que os rodeia. Para Caroline Wexler (Kat Dennings), rapariga duma grande metrópole que se muda com o pai para uma vila exígua, o primeiro destino nessa caminhada parece ser o seu professor, Mr. Anderson (Josh Lucas). Talvez a morte da sua mãe a tenha feito crescer mais rápido, talvez a falta de entrosamento com o pai a tenha feito perder noção dos valores, certo é que Caroline se julga sofisticada, solitária e até superior aos seus colegas, e, aproveitando o facto de poder ser alguém diferente agora que está num meio diferente, decide apontar mais alto.

Este é "o ano em que tudo aconteceu", o ano em que um incêndio industrial cobre a paisagem de fumo, o ano em que um assassino à solta espalha o terror pelas redondezas, o ano em que as hormonas inundam a povoação. Thurston (Reece Thompson) perde-se nas drogas e perde-se de amores por Caroline, que o manipula para esconder a sua relação com Mr. Anderson. O filme pinta um retrato duma juventude apática, com muitas facilidades e poucos desafios, uma mistura que leva à tragédia. Cada vez que alguém quebra barreiras ou passa fronteiras, sofre as consequências e nem sempre são agradáveis ou se está preparado para elas. Thurston vive com o arrependimento de ter perdido o melhor amigo num acidente de carro à saída de uma festa e de não o ter ajudado convenientemente, mas nem isso parece forcá-lo a procurar um rumo para si, antes pelo contrário, parece paralisá-lo ainda mais. Caroline trata uma rapariga da sua escola como uma puritana idiota sem futuro, humilha-a com palavras para depois chorar de arrependimento. O realizador parece partilhar a opinião de Paul Schrader de que o que o fascina "são pessoas que querem ser uma coisa mas que se comportam duma forma contraditória a isso."

Todas as personagens vivem com medo de estar sozinhas e a maioria não resiste a distrair-se com superficialidades para afundar momentaneamente esse medo, porque é mais fácil do que tomar uma posição e mantê-la. Mr. Anderson é talvez a personagem mais paradoxal de Daydream Nation. Um trintão aparentemente seguro e educado, acaba por se revelar um frustrado depressivo, cheio de teias de aranha na cabeça, em tempos um teenager desajeitado e preguiçoso talvez não muito diferente de Thruston, que cria a ilusão de ter encontrado a mulher perfeita em Caroline. O tom desiludido do filme remete para American Beauty e Mr. Anderson não anda muito longe dum Lester Burnham mais novo. Um ótimo papel para Josh Lucas, que consegue trazer lentamente ao de cima o ridículo da sua personagem. No entanto, ao contrário da obra de Sam Mendes, há aqui, no fim, um vislumbre de esperança, apesar da maior e nem sempre eficaz urgência em criar drama.

O argumento perde-se um pouco nas suas próprias complexidades e às tantas talvez tivesse sido melhor suprimir todo o sub-enredo do serial killer, por exemplo, mas distingue-se a nível humano. Uma construção e apresentação cuidada das personagens asseguram uma grande ligação às mesmas e uma grande compreensão das mesmas, até quando cometem os maiores erros ou incorrem nas piores decisões. Não se pode dizer que haja aqui uma grande história; há sim bons momentos num filme-mosaico com bom fundo e vontade de explorar o amor e a sexualidade juvenis com honestidade, conduzido por uma voz tipicamente indie, que se ouve no ocasional humor seco (para o qual Kat Dennings já provou ter talento noutros filmes, como Nick And Norah's Infinite Playlist), em meia dúzia de planos de paisagens outonais em soft focus ou na banda sonora de Rock ligeiro. Mike Goldbach é menos polémico que Larry Clark, menos poético que Gus Van Sant, mas faz de Daydream Nation um projeto interessante e emotivo onde o romantismo acaba por ser a resposta para todo e qualquer drama que possa atingir as nossas vidas - que, afinal, não são assim tão insignificantes quanto às vezes podemos achar, quanto mais não seja porque podem significar algo para alguém.

7/10

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

sábado, 17 de dezembro de 2011

CURTAS: Hotel Chevalier (Wes Anderson, 2007)

Como uma espécie de prelúdio de The Darjeeling Limited, Wes Anderson filmou esta bela curta-metragem em Paris. Natalie Portman apareceria apenas por um micro segundo no filme supracitado.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Red Road (Andrea Arnold, 2006)

Poço sem fundo de ideias, o dinamarquês Lars von Trier apadrinhou em 2003 um conceito a ser desenvolvido por realizadores novatos, que batizou de Advance Party. Dadas meia dúzia de personagens, delineadas em papel em meia dúzia de linhas, os escolhidos teriam de criar à sua volta argumentos originais. E assim nasceu Red Road, com Andrea Arnold como filiação.

Jackie (Kate Dickie) é operadora de videovigilância. Vê os dias passarem através das câmaras que estão espalhadas por várias zonas da cidade de Glasgow. Alienou-se do mundo, mas está responsável por o patrulhar, sentada numa divisão escura, cuja única luminosidade provém dos ecrãs que se espalham pelas paredes como janelas eletrónicas e dos cigarros que acende em catadupa.

Arnold faz questão desde o início de mostrar o desconforto desta mulher com a sua vida atual, à qual parece tentar conformar-se sem sucesso. Não evita cruzar-se na rua com estranhos que reconhece do seu trabalho nem renuncia a sexo com um homem casado, tal é a sua necessidade de ter o mínimo de contacto humano, mas é pouco. E então aparece, num dos monitores, um homem do seu passado.

A sua obsessão com Clyde (Tony Curran), que passa a seguir religiosamente, primeiro à distância, depois pela cidade, começa a consumi-la, mas a razão é incerta para o espectador. Como que vítima dum sortilégio, Jackie tem, simplesmente tem de se aproximar deste ex-presidiário mulherengo (que poderá nutrir também um interesse excessivo em pelo menos uma aluna de secundário).

A ligação mais imediata do filme é o Dogma 95, um manifesto também ele idealizado por Lars von Trier, que impõe uma realização à base de câmaras de mão e o exclusivo uso de luz natural e som diegético. Arnold faz um trabalho excelente a este nível, um silêncio meditativo mas tenso segue Jackie para todo o lado, em especial pelo soturno bairro de Red Road, onde mora Clyde.

É um filme que se faz de impulsos primitivos, há muito suprimidos, que se faz do que se diz mas acima de tudo do que não se tem coragem de dizer. Há uma camada de tensão sexual muito espessa, que se adensa à medida que a personagem principal parte, talvez inocentemente, talvez intencionalmente, para uma nova relação física potencialmente perigosa (e filmada de forma muito explícita).

A desconhecida Kate Dickie tece uma interpretação notável à medida que desenrola o complexo novelo da vida de Jackie, que a leva a emoções assolapadas e a ações de cariz moral duvidoso. Parece claro que Clyde não lhe traz boas memórias, mas insiste em aproximar-se mais e mais e mais, porquê? O passado que une estas personagens é dramático e revelado com um cuidado e uma compreensão emocionantes.

A atmosfera deprimente de Red Road engole quem o vê, e que bem que sabe, que bem que sabe ver cinema em que a história é bem complementada pelo meio que a adota. Arnold estreia-se com um filme talvez longo demais para o seu próprio bem, talvez tão longo quanto tinha de ser, mas certamente dum intimismo sufocante. E agora venham mais filmes da Advance Party, por favor.

8/10

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

LISTAS: Orson Welles


Os 10 filmes preferidos de Orson Welles:
  1. City Lights (Charlie Chaplin, 1931)
  2. Greed (Erich von Stroheim, 1924)
  3. Intolerance (D.W.Griffith, 1916)
  4. Nanook Of The North (Robert Flaherty, 1922)
  5. Shoeshine (Vittorio de Sica, 1946)
  6. Battleship Potemkin (Sergei Eisenstein, 1925)
  7. The Baker's Wife (Marcel Pagnol, 1938)
  8. Grand Illusion (Jean Renoir, 1936)
  9. Stagecoach (John Ford, 1939)
  10. Our Daily Bread (King Vidor, 1934)

sábado, 10 de dezembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Due Date (Todd Phillips, 2010)

Todd Phillips tem razões para sorrir. Depois de ter desistido da mítica escola de cinema de Nova Iorque para promover o seu documentário Hated, conheceu o produtor Ivan Reitman, que o ajudou a encontrar o seu lugar em Hollywood, dando-lhe a possibilidade de escrever e realizar o seu primeiro trabalho de ficção. Assim surge Road Trip e assim começa uma carreira de sucesso com comédias subversivas.

Apenas um ano depois de fazer dinheiro como lixo graças ao original The Hangover, atirou-se à estrada com Robert Downey Jr. e Zach Galifianakis para fazer Due Date, um filme onde o destino junta um sério arquiteto e um irresponsável ator numa viagem de carro contra o tempo, pois a esposa do primeiro está prestes a dar à luz. Está bom de ver que antes de chegar ao seu destino, ele vai ter de sofrer. Muito.

As personalidades díspares do par chocam desde o início, e tudo se complica quando a carteira do irritadiço Peter se perde e o despreocupado Ethan gasta mais de metade das suas poupanças em erva, supostamente para propósitos medicinais, um dos seus muitos hábitos duvidosos (Juliette Lewis é a dealer de serviço, a quem Galifianakis recita um monólogo de The Godfather, numa das melhores cenas).

Se por um lado será mais fácil dar um desconto a Ethan, dado o seu carácter infantil e propensão para arranjar problemas, não é difícil compreender Peter. A ideia de depender de alguém que não se coíbe de se masturbar à frente de um estranho já é insuportável por si só, quanto mais quando o tique-taque do relógio não pára de relembrar que se pode estar prestes a perder um momento único.

As semelhanças com o clássico Planes, Trains And Automobiles de John Hughes são óbvias, mas Galifianakis não inspira a mesma simpatia que John Candy, e o comportamento de Ethan roça mesmo, por vezes, o constrangimento e a falta de compreensão pelo seu companheiro de viagem. Por outro lado, Robert Downey Jr. não tem o timing cómico de Steve Martin e acaba reduzido quase a um saco de porrada.

Claro que o exagero é o que faz alguns dos gags resultarem, mas Peter, por muito arrogante que seja, não deixa de ser um homem de família e um profissional de sucesso que pode ser privado de ver o nascimento do seu primogénito pela incompetência de outrem e esse pensamento está sempre presente, o que torna toda a viagem uma grande frustração, mesmo que o final seja (duh) feliz.

A força de The Hangover era a narrativa intrincada e intumescida por um grande espírito de união e camaradagem. Due Date é mais episódico, tem momentos bons e momentos não tão bons, e a tolerância que se cria entre as personagens parece forçada por atribulações e passageira. Todd Phillips deverá ter um novo sucesso de bilheteira nas mãos, mas já deu mais razões para sorrirmos.

6/10

sábado, 3 de dezembro de 2011

LISTAS: Roger Ebert


Os filmes preferidos de Roger Ebert (em 2002):
  • The General (Buster Keaton, Clyde Bruckman, 1926)
  • Citizen Kane (Orson Welles, 1941)
  • Tokyo Story (Yasujiro Ozu, 1953)
  • Vertigo (Alfred Hitchcock, 1958)
  • La Dolce Vita (Federico Fellini, 1960)
  • 2001: A Space Odyssey (Stanley Kubrick, 1968)
  • Aguirre: The Wrath Of God (Werner Herzog, 1972)
  • Apocalypse Now  (Francis Ford Coppola, 1979)
  • Raging Bull (Martin Scorsese, 1980)
  • Dekalog (Krzysztof Kieslowski, 1989)