domingo, 30 de outubro de 2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Conan The Barbarian (John Milius, 1982)

Ainda que os anos 80 tenham sido um período rico em filmes de culto daqueles que são tão maus que acabam por ser espectaculares, esse não é tanto o caso de Conan The Barbarian. É certo que nesta altura surgiram muitas estrelas de cinema mais laureadas pelos seus músculos e capacidades físicas do que pelo seu talento como actores ou pela qualidade dos seus filmes, e Conan The Barbarian não deixa de ser, acima de tudo, a rampa de lançamento de Arnold Schwarzenegger, alguém que se insere com facilidade nessa categoria e que não passou a oportunidade de exibir aqui a sua forma física impressionante. Ainda assim, esta não deixa de ser uma grande aventura e uma produção com muitos méritos.

Herói maior do género de "sword & sorcery fantasy", Conan é um guerreiro de respeito num tempo longínquo. Feito escravo ainda criança, acaba por readquirir a sua liberdade à custa de muita violência e veneração por Crom, um deus cruel e imperdoável, central na cultura do aço. Embarca então numa busca pelo homem que matou a sua família e destruiu a sua aldeia, o poderoso feiticeiro Thulsa Doom (James Earl Jones). Apesar de o vilão não ser o esqueleto da literatura, a sua figura não deixa de impor respeito e semear medo, quer pela sua forma sibilina de discursar, quer pelos seus poderes mágicos. Numa cena, uma mulher suicida-se displicentemente em honra ao seu culto de cobras. Na ficção como na realidade, a influência dos grandes líderes dá que pensar.

Conan é um solitário silencioso, o que é adequado para o carrancudo Schwarzenegger. Tal como na banda desenhada, são os seus feitos que movem a acção e o filme torna-se muito visual, quase sempre apoiando-se na natureza ou nos cenários sumptuosos que o rodeiam para transmitir a sua sede de vingança e a incerteza do seu destino. Cada personagem, cada local parece esconder segredos e ameaças, tão inusitadas para Conan como para o espectador, ainda que nunca de forma tão tenebrosa como no papel. A partir do momento em que vemos uma mulher aliciá-lo com sexo para se transformar numa espécie de demónio vampiresco, pronta para o despedaçar à dentada, fica a sensação de que qualquer coisa pode acontecer.

Dada a sua pouca expressividade e aparente desdém por sentimentalismos, a relação amorosa de Conan com uma ladra, Valeria, poderia não passar de um fait diver supérfluo, mas o entendimento imediato que os dois estabelecem e a sagacidade dela acabam por revelar muito subtilmente um lado menos intenso de Conan, que noutras ocasiões não hesitara a tratar mulheres como pedaços de carne ou a não ter em consideração as opiniões de terceiros. Algo arrojado realmente, este filme, por várias vezes, mostra sem pudor o lado mais selvagem da era Hiboriana, não se coibindo mesmo de incluir uma orgia numa cena importante na busca de Conan. A podridão do culto de Doom é evidente.

O argumento não tem sempre a mesma força, decaindo um pouco nas cenas com o mago narrador, por exemplo, e o filme está algo datado, não parecendo agora tão sombrio ou fantasioso como talvez parecesse quando saiu, mas John Milius e a sua equipa fizeram um óptimo trabalho em termos de efeitos especiais e de utilização do espaço, tão importante na nossa percepção da história e dos protagonistas. A procura de Conan é, acima de tudo, pelo significado da vida num mundo corrompido por superficialidades, depois de lhe ter sido negado tanto durante tanto tempo. Afinal também há filmes de culto dos anos 80 com arquétipos ambulantes no papel de actores com alguma profundidade e qualidade.

7/10

terça-feira, 25 de outubro de 2011

TRAILERS: The Adventures Of Tintin (Steven Spielberg, 2011)

Claro que eu não podia deixar passar em claro o filme do Spielberg! Finalmente, ao fim de tantos anos, uma das personagens de banda desenhada com maior potencial cinemático que há, tem um filme! Guardem-me um lugar na primeira fila.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

True Grit (Ethan Coen, Joel Coen, 2010)

Num pico de popularidade e maturidade desde No Country For Old Men, os irmãos Coen optam por seguir para um remake. A decisão revela-se acertada: True Grit, um conto sobre os intricados caminhos da violência e do destino ambientado no velho oeste americano, serve na perfeição a clareza vitriólica do "two headed director".

Mattie Ross é uma jovem determinada, que pretende vingança pela morte do seu pai. Para o efeito, contrata não o marshal mais eficaz, não o mais justo, mas sim Rooster Cogburn, o mais cruel. Um Jeff Bridges zarolho entra então em cena. Se é verdade que os Coens conseguem sempre trazer ao de cima o ridículo da mais sisuda das histórias, muitas vezes graças a um ímpar sentido de ironia, também é verdade que poucos actores conseguem entender esse humor negro como Bridges, dar-lhe expressão e sentimento. Aqui, a sua presença é intimidante, mesmo quando se deixa levar pelo álcool ou se revela mais vulnerável e a sua relutância em ajudar uma pré-adolescente se transforma em profundo respeito pelas provas de coragem da mesma.

A evolução da relação entre os dois é cativante, ao que também não é alheia a grande interpretação de Hailee Steinfeld. Obstinada e inteligente, a jovem consegue estabelecer uma química impecável com os veteranos que a rodeiam e apesar da evidente maturidade de Mattie, há sempre uma réstia de inocência. Os seus objectivos são louváveis e é impossível não simpatizar com ela, mas está claramente a entrar em águas profundas demais para si.

Impressionante é o realismo e a reconstituição da época. Este filme era talvez inevitável, considerando as inúmeras referências ao western na carreira dos Coens (o narrador cowboy de The Big Lebowski, por exemplo), e o cuidado com que eles abordam o género e o homenageiam ao mesmo tempo é admirável. Eram tempos duros, com homens duros e expressões duras.

A linguagem, aliás, quer seja auditiva quer seja visual, sempre foi uma obsessão de Joel e Ethan. O filme soa à inexorabilidade da lei da bala, com os seus sotaques arcaicos, silêncios contemplativos e tiros ruidosos e aparenta uma rudeza que não deixa de ser evocativa, muito graças ao sempre esclarecido trabalho de cinematografia de Roger Deakins, não havendo um único plano descuidado ou desnecessário.

Simultaneamente, no seu âmago, True Grit acaba por ser também menos desiludido e negativo que trabalhos como Burn After Reading ou A Serious Man, onde todas as relações pessoais parecem condenadas ao fracasso e onde os dogmas e as superficialidades da sociedade moderna parecem sabotar os desejos e objectivos íntimos das personagens principais, quase como se os irmãos apenas conseguissem encontrar justiça e morais em épocas passadas e de menos facilidades.

Austero, cru, directo e memorável, esta é uma obra maior no trajecto de dois dos maiores realizadores da actualidade.

9/10

IMDb 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

CITAÇÕES: Love And Death (Woody Allen, 1975)

Boris: If it turns out there is a God, I don't think he's evil. I think the worst you can say about him is that he's basically an underachiever.

TOP5: Fruta

05. Bananas (Woody Allen, 1971)
Uma comédia estapafúrdia de Woody Allen, por isso deliciosa!

04. Pineapple Express (David Gordon Green, 2008)
Uma louca aventura, fora do registo habitual até esta altura de David Gordon Green, mas que se revelou uma agradável mudança de estilo para o realizador, aqui a trabalhar (e muito bem) com antigos actores da mítica série Freaks & Geeks. Peace!

03. The Grapes Of Wrath (John Ford, 1940)
Para muitos o melhor livro Americano, para muitos o melhor filme de John Ford, que, coincidência, é para muitos o melhor realizador Americano. Enfim, reputação e currículo não faltam a The Grapes Of Wrath, e para perceber porquê basta ver a mestria dos primeiros (silenciosos e poéticos) minutos.

02. Wild Strawberries (Ingmar Bergman, 1957)
Ingmar Bergman assina mais um filme sobre a morte, fé e sonhos. Mas também sobre morangos.

01. A Clockwork Orange (Stanley Kubrick, 1971)
Stanley Kubrick cria uma laranja difícil de digerir, ácida até mais não, causadora de muita azia e línguas de fora. Ou seja, um fruto espectacular!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Loose Change 9/11: An American Coup (Dylan Avery, 2009)

O 9/11 foi provavelmente o acontecimento mundial mais importante após a Segunda Grande Guerra, não só pelo choque e dimensão dos eventos desse dia, mas também pelas consequências sociais e económicas que teve e que se fazem sentir ainda hoje, de tal forma que a incredulidade perante o sucedido tem gerado, desde então, uma miscelânea de teorias de conspiração. Muitas delas rejeitam a explicação oficial de um ataque terrorista massivo e acusam antes o governo americano de ter orquestrado tudo, por vezes de formas infundadas. Loose Change tenta apresentar dados credíveis que possam suportar esse sentimento.

O documentário de Dylan Avery começa e acaba com enquadramento histórico, como um prólogo e um epílogo que indiciam precedentes de ataques sofridos pelos EUA, retaliações falaciosas dos EUA e maquinações internas nos EUA. No meio, investiga-se; os mais inconformados dirão que se procura a verdade, os mais cépticos dirão que se entra em negação. Seja como for, é irresponsável renunciar factos. Avery afirma que o 9/11 foi gerado por "war games", ou seja, simulações militares reais de cenários de guerra, que correram mal ou foram desenhados propositadamente para correrem mal e tem muito por onde pegar.

Onde estavam os jactos do exército que podiam interferir com a trajectória dos 4 aviões? Porque é que o Boeing 757 que chocou contra o Pentágono fez no edifício um buraco do tamanho da minha cozinha? Como é que não foram encontrados destroços do voo 93 em Shanksville, Pensilvânia, algo inédito na história da aviação mundial? Sabiam que 9 dos supostos pilotos suicidas foram encontrados com vida em países árabes ou africanos nos últimos 10 anos? O que aconteceu realmente no WTC 7, o terceiro edifício que ruiu, em queda livre, em Nova Iorque nesse dia?

Há muitas pontas soltas, o que se seguiu foi deplorável e Bush, a sua família e os seus colaboradores mais próximos não têm um currículo que abone em seu favor. Há muita especulação, mas Avery consegue pôr o espectador a pensar. A narração de Daniel Sunjata é grave e cativante. Loose Change não encerra todas as respostas, claro, mas levanta questões importantes, com suposições verosímeis, documentos reveladores e testemunhos paradoxais. Não podemos aceitar tudo o que nos é dito. Ainda em 2004, José Maria Aznar mentia sobre os atentados de Madrid, aqui ao lado, em Espanha. A extensão que os segredos dos EUA, única superpotência mundial, podem ter é inimaginável...

8/10

IMDb

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

My Son, My Son, What Have Ye Done (Werner Herzog, 2009)

É curioso que David Lynch seja o produtor deste filme, pois My Son, My Son, What Have Ye Done está mais próximo da sua filmografia que da de Werner Herzog, o realizador. O que temos aqui é, então, um trabalho muito complicado, por um lado previsível e fanado, por outro lado bizarro e perturbador. Brad McCullum (Michael Shannon) enceta uma viagem ao Peru com amigos (um destino do agrado de Herzog), da qual volta sozinho depois de muito descuido na prática de canoagem. Durante o ano seguinte, o seu comportamento vai-se tornando cada vez mais errático e acaba por incorrer em matricídio. O filme é pouco convincente em mostrar a suposta involução psicológica de Brad, um zombie ambulante com zero de carinho pelos que o rodeiam, excepto pela sua mãe, na presença de quem se torna subserviente e pusilânime, e com zero de interesse em tudo o que faz, excepto numa peça sobre Orestes, na qual tem o papel principal.

É claro que Mrs. McCullum (Grace Zabriskie) o castrou, não fisicamente (presumo) mas mentalmente, criou sozinha o filho num ambiente de co-dependência e infantilidade ao qual Brad parece não querer ou conseguir escapar. Numa cena, depois de a sua noiva, Ingrid (Chloë Sevigny), lhe ter recomendado sair de casa, o jovem sugere mudarem-se os dois para a casa ao lado, ou para a seguinte, ou para a casa em frente. Claro que Ingrid não fica agradada, pois percebe que o deve afastar da influência maternal, mas pouco faz para isso ou para ajudar a curar as feridas que o sucedido no Peru eventualmente terá deixado em Brad. Ele parece sofrer duma apatia enervante (e este tipo de pessoas normalmente não anda a fazer viagens e peças de teatro, só que personagens bem pensadas não é o forte deste argumento), mas talvez não tão danosa quanto a apatia de Ingrid ou do director da peça, Lee (Udo Kier num registo frouxo), por exemplo. Andam com ele dum lado para outro, sempre preferindo ignorar os problemas de Brad a confrontá-lo com eles. Agora apenas têm a Mrs. McCullum talhada e embrulhada num saco de plástico, a SWAT a tentar tirar Brad de casa e café barato na mão, oferecido pelo excessivamente bondoso detective (Willem Dafoe) a quem têm de recontar o passado recente, que vemos em inúmeros flashbacks.

É, no entanto, difícil ver esta trapalhada toda e não ficar um pouco fascinado com alguns dos momentos mais esotéricos que Herzog plantou aleatoriamente. Num deles, Brad e o seu tio Ted estão num bosque coberto por neve a planear um anúncio e um anão deambula por perto. O enquadramento é tal e a estranheza é tanta que não deixa de ser interessante. Noutro ponto, uma câmara portátil digital filma em POV um mercado chinês, seguindo vários idosos, que vão olhando para a lente. Porquê? Não faço a mínima ideia, mas não deixa de ser interessante. São estes detalhes que fazem My Son, My Son, What Have Ye Done parecer mais David Lynch que Werner Herzog e, francamente, são os poucos pontos de relevo desta salgalhada. Sem rumo, sem textura, sem voz, este é um filme bastante intragável e completamente irrelevante.

4/10

IMDb