sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Shutter Island (Martin Scorsese, 2010)


Para um cineasta cinéfilo e adepto confesso de thrillers históricos e do género film-noir como Martin Scorsese, realizar um filme nos mesmos moldes terá sido sempre uma tentação. Se em 2007 se ficou por uma curta com claras influências de Hitchcock (The Key To Reserva), em 2010 não resiste a atirar-se de cabeça para a conversão ao cinema do livro Shutter Island de Dennis Lehane (o mesmo autor de Mystic River). Denso, povoado por reviravoltas e flashbacks, a roçar o terror, este argumento parece algo atípico no currículo de Scorsese... ou se calhar nem por isso.

O facto é que os filmes do realizador americano têm experimentado mudanças em forma, mas não em conteúdo. Seria difícil imaginá-lo nos anos 80 a preocupar-se com uma narrativa ou a preterir virtuosismos com a câmara para homogeneizar o conjunto, mas The Departed parece ter demarcado uma nova fase na sua carreira (o próprio terá dito há alguns anos que esse foi o seu primeiro filme com enredo, afirmação que não parecerá totalmente verídica para quem já viu Cape Fear) e Shutter Island aparece também nesse seguimento.

No entanto, não deixa de ser um filme visualmente fascinante, com uma atmosfera intimidante, e sobre temas recorrentes, em especial sobre violência, claro. Que consequências tem a violência na psique humana? O que nos leva a incorrer em actos violentos? Que justificação, se alguma, pode ter uma conduta violenta? Será a violência intrínseca à nossa natureza? Scorsese pergunta, Teddy (Leonardo DiCaprio) procura responder. Isolado numa instituição em forma de ilha para criminosos insanos, este agente federal deslinda o desaparecimento de uma mulher lá internada.

Perseguido pelos seus próprios traumas (como num bom film-noir, a história já vai a meio quando a acção principia), Teddy tem também a sua agenda pessoal neste caso: encontrar o pirómano que causou o incêndio em que morreu a sua mulher, Dolores (Michelle Williams). Enxaquecas e fotossensibilidade minam-lhe o bem-estar físico e mental, mas Teddy prossegue a sua investigação a todo o custo, apesar da relutância em colaborar dos responsáveis pela instituição, Dr. Cawley (Ben Kingsley num papel enigmático e muito bem conseguido) e o germânico Dr. Naehring (Max von Sydow), que desperta em Teddy memórias do Holocausto, que presenciou, in loco, enquanto militar participante na libertação do campo de concentração de Dachau.

Leonardo DiCaprio (alguém lhe dê um Óscar, por favor...) é fenomenal a fazer transparecer gradualmente o comportamento paranóico e incoerente da sua personagem. Cada nova cena parece aumentar a incerteza do seu destino, e para isso muito contribui também o negrume do trabalho de fotografia de Robert Richardson. Com Shutter Island, um dos seus filmes mais complexos a nível psicológico e sociológico, Martin Scorsese continua em alta, como sempre olhando para o passado para seguir em frente, apoiando-se na história do cinema para suportar o seu presente.

9/10

3 comentários:

  1. Eu dou-lhe 8 mas admito que o 9 não lhe fica nada mal :P É Scorsese em grande!

    Abraço

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  2. Total e completamente de acordo. Não o teria dito melhor. E alguém dê um oscar ao Leo.

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  3. Boa análise, mas classifico este grande filme com 10 pessoalmente.
    "Shutter Island": 5*

    É um filme obrigatório. Com o seu desenrolar vamos descobrindo tudo e isso é-nos mostrado de uma forma magistral.

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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