segunda-feira, 25 de julho de 2011

The Science Of Sleep (Michel Gondry, 2006)

Para onde ir depois de um filme que tão bem balança a comédia e o romance, que consegue ser "comercial" e "indie" ao mesmo tempo, que está tão bem feito a todos os níveis como Eternal Sunshine Of The Spotless Mind? Para o realizador Michel Gondry, a resposta parece ter sido tentar fazer algo semelhante, mas sem a ajuda de um argumentista. Dois anos depois, chegou então The Science Of Sleep, uma história simpática sobre um jovem artista com muita dificuldade em expressar o seu amor. Stéphane (Gael García Bernal) muda-se para Paris atrás de um emprego supostamente criativo prometido pela mãe, que vive na capital francesa. Apresenta-se ao trabalho cheio de ideias para o calendário em que irá trabalhar, mas o seu chefe diz-lhe que as pessoas apenas querem ver "puppies, trucks, flowers or nudes". Por outro lado, chega uma nova inquilina ao seu prédio, Stéphanie (Charlotte Gainsbourg), por quem se começa a apaixonar, mas ele tem uma grande inabilidade em lidar com os seus sentimentos e ela tem uma grande indisponibilidade para relacionamentos. As desilusões profissionais e emocionais espezinham o seu carácter sensível e agravam as suas disfunções de sono, levando-o a refugiar-se num mundo asfixiante de sonhos e veleidades, que se mistura com a realidade num complexo fluxo de consciência cinemático e que, no fundo, nada resolve. Gondry consegue inventar visuais únicos, cenários divertidos, animações e truques de câmara verdadeiramente originais, mas nem sempre os consegue preencher de significado, pelo menos não com a coesão ou carga dramática de Eternal Sunshine Of The Spotless Mind, até porque o enredo é bastante mais simplista. Stéphane é caprichoso e o filme chega a roçar a auto-indulgência. Por muito gracioso que Bernal seja, a infantilidade e o solipsismo da sua personagem chegam a ser irritantes e a ferir um pouco o tom brincalhão mas cativante que o filme supostamente deveria ter. Falta Charlie Kaufman, mas, mesmo assim, vale a pena ver The Science Of Sleep? Sim. Dificilmente haverão realizadores mais fascinados que Michel Gondry com as possibilidades do filme em geral. Simplesmente isso pode ser suficiente para realizar grandes videoclips, mas não é suficiente para realizar grande cinema...

6/10

TRAILERS: Rise Of The Planet Of The Apes (Rupert Wyatt, 2011)

Para quem gosta do clássico, está a chegar a história de origem! Para quem nunca viu o clássico, que trate disso rápido.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Roman Holiday (William Wyler, 1953)

Gregory Peck e Audrey Hepburn, num filme de William Wyler, produzido pela Paramount - mais clássico do que isto é difícil. Comédia romântica perenal, Roman Holiday é lembrado pela sua história leve, por ser um magnífico cartão de visita de Roma e, claro, por ter sido o primeiro papel de protagonista de Hepburn no cinema, tendo-lhe valido o Óscar imediato. A abrir, um boletim informativo ficcional, que, inteligentemente, em muito se assemelha aos que passavam antigamente nos cinemas antes do começo dos filmes, e que nos informa que uma princesa qualquer acaba de chegar a Roma, no âmbito de uma alargada tournée (qual estrela Rock qual quê) pela Europa. Depois de um longo dia de paradas militares, recepções ultra-formais e outros salamaleques, a princesa Ann confessa, à noite, no seu quarto, a uma condessa que a acompanha, que está farta da sua vida, e acaba a ter um verdadeiro colapso nervoso. Sedada por um médico, é deixada sozinha no seu quarto, donde acaba por fugir sorrateiramente e adormece de vez apenas na rua, onde é encontrada pelo jornalista Joe Bradley (Peck). A partir deste momento, o filme transforma-se num jogo de mentiras e numa visita guiada pela câmara de Wyler por Roma simultaneamente, à medida que Ann tenta viver despreocupada e anonimamente pela primeira vez e que Joe tenta relatar em primeira mão este aparente devaneio da princesa, ocultando-lhe a sua profissão para não condicionar a relação entre ambos. Uma das facetas do filme é a desmistificação da fama, que é indiciado logo no início quando um encontro cheio de normas e códigos reais num palácio se torna na luta de Ann para conseguir calçar outra vez, sem que ninguém veja, o sapato que lhe saiu acidentalmente do pé debaixo da longa saia do seu vestido. Roman Holiday está cheio de pormenores desse género, que tentam mostrar que em cada celebridade há, claro, uma pessoa comum. Quanto à química entre os dois actores principais, não é propriamente a mais intensa de sempre, sendo até curioso que o papel do jornalista tenha sido inicialmente oferecido a Cary Grant, com quem Hepburn contracenaria com maior sucesso neste aspecto 10 anos depois em Charade. Ainda assim, Roman Holiday contém cenas que fazem parte do imaginário da cinefilia, como as deambulações de Vespa das personagens pelas ruas da cidade, a passagem por La Bocca Della Verittà ou o final agridoce, e o seu tom jovial garante-lhe um lugar acima da maioria das comédias românticas da altura. É, ainda, um filme belo de se ver.

7/10

Andrei Tarkovsky

Só porque sim, abro o blog com uma homenagem ao melhor realizador de sempre: Andrei Tarkovsky :)

segunda-feira, 18 de julho de 2011